lunes, 26 de septiembre de 2016

Roberto Piva (1937-2010) Colaboración de Claudio Willer




POEMA VERTIGEM[1]


Eu sou a viagem de ácido
nos barcos da noite
Eu sou o garoto que se masturba
na montanha
Eu sou tecno pagão
Eu sou Reich, Ferenczi & Jung
Eu sou o Eterno Retorno
Eu sou o espaço cibernético
Eu sou a floresta virgem
das garotas convulsivas
Eu sou o disco voador tatuado
Eu sou o garoto e a garota
Casa Grande & Senzala
Eu sou a orgia com o
garoto loiro e sua namorada
de vagina colorida
(ele vestia a calcinha dela
& dançava feito Shiva
no meu corpo)
Eu sou o nômade do Orgônio
Eu sou a Ilha de Veludo
Eu sou a Invenção de Orfeu
Eu sou os olhos pescadores
Eu sou o Tambor do Xamã
(& o Xamã coberto
de peles e andrógino)
Eu sou o beijo de Urânio
de Al Capone
Eu sou uma metralhadora em
estado de graça
Eu sou a pomba-gira do Absoluto (PIVA, 2008: 74)

A OITAVA ENERGIA[2]
para Malcolm de Chazal & sua poesia oscilatória; para Raymond Abellio, Câmara Cascudo, Mircea Eliade, Julius Evola & a tradição iniciática”:
Que você conheça
a estrela da loucura
Na sua verde boca animal
A paisagem mineral
rói o olho do peregrino
que procura seu Deus com chifres
Amo os garotos que cospem o sangue
das amoras
pelos lugares ermos, praias habitadas
por escamas de peixe, montanhas
& matas onde o anjo é um pau
duro no poente
Que você conheça o relâmpago
chamado mundo sombrio
Estremecendo na folha do seu
coração
Que você conheça este relógio sem nuvens
chamado morte
dependurado no planeta
como volúpia secreta
Que você conheça manguezais
& realidades não-humanas
que são a essência da Poesia
Que você conheça o sussurro do Sol
Na água ferruginosa dos seus olhos (PIVA: 2008, 68)

MOSTRA TEU SANGUE, MÃE DOS ESPELHOS[3]
o mistério lunar da menina
lésbica
linda como um nenúfar
com seu nome de pássaro
levando na mochila
AS CANÇÕES DE BILITIS
uma coruja no ombro
& no sangue os gritos
dos náufragos de outrora (PIVA 2008, 127)

POEMA ELÉTRICO DO CU[4]

músculo de veludo na boca de todos os feirantes
            torpedeiros    meninas de internato
            negociantes   padeiros    farofeiros
            torcidas    exércitos de humanocultura
            onde você habita alucinante como
            promessa derradeira
cu boquiaberta entrada franca dos demônios
            pesadelo dos adolescentes    fogueira da
            solteirona em férias    árvore genealógica
            da Cloca Mater onde foi chocado
            o ovo humano numa temperatura
            de 300 sóis
cu   fonte de energia kundalini    hóstia dos
            grandes libertinos    fornalha dos
            cocainômanos    boca azulada da
            verdade corpórea diagramada no
            infinito do desejo      cu grande iniciador
           de tempestades amorosas      vertigem verdadeira
           onde os amantes deslizam
cu   vaporizador da Idade Média do corpo
           onda bioenergética de metais coloridos
           omoplatas carregadas de hidrogênio
           leopardos alucinados de tanto veludo
cu de cabelos   negros     loiros   ruivos   castanhos
           cipoal de intrigas   onde o caralho
           se perde     se desnorteia    desmaia de gozo
           na contração do espasmo da alegria erótica
cu selvagem assaltante noturno     diurno     trombadinha
           espadachim das estradas   que levam
           ao Grande Precipício anunciador de Paixões
cu das penugens suaves & sumarentas    flor carnívora
           labareda policiada pela civilização
            ave louca    solitária    perdida   bêbada
           amorosa
cu proletário  do  corpo      grande escorpião revoltado
            teu vôo de liberdade começa  a acontecer

UM ESTRANGEIRO NA LEGIÃO [5]
Minha poesia politeísta navega
contra a correnteza
levada pelo meu Ciclone pessoal
poesia de coxas alabardas fuzis
punhais & vagalumes
poesia banhada no Sol das
estradas
poesia iluminada na luz surrealista dos óvnis
poesia – alquimia perversão êxtase
poesia no ritmo de vísceras, não de metrônomo
poesia – tambor xamanizando nas
estrelas
poesia – anjo gavião moqueca & 3
espécies de pimenta
poesia psicodélica dançando na
lua na rua nas asas
dos cometas R. Piva 98




[1] De Ciclones (1997)
[2] Também de Ciclones.
[3] De Estranhos sinais de Saturno (2006)
[4] De Corações de Hot-Dog, livro ainda inédito – o poema foi escrito por volta de 1980..
[5] Inédito, de seus escritos dispersos no arquivo do Instituto Moreira Salles, recuperado pela epsquisadora Ibriela Bianca Sevilla.

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